Os roedores são um dos nossos principais inimigos e geralmente sua presença reflete falta de condições sanitárias, ambientais e educacionais. São os vertebrados que mais problemas causam ao homem.
A FAO/ONU estimou que há uma perda anual de 33 milhões de toneladas de alimentos, provocada por ratos, quantidade suficiente para alimentar 130 milhões de pessoas por ano. É muito difícil calcular o número de ratos que há no mundo, porém, a ONU acredita que existam 3 ratos por habitante, cada um deles causando um prejuízo de US$ 10.00 por ano, entre alimentos consumidos ou estragados, tratamento de doenças transmitidas, incêndios, danos estruturais, etc...
São responsáveis por grandes perdas econômicas, em diversas áreas, cujos prejuízos chegam à:
Agricultura - 20% de toda a produção. O rato ataca as sementes, as plantas, os cereais e principalmente os produtos armazenados.
Pecuária - 10% das rações dos animais é contaminada ou ingerida por ratos. Transmitem várias doenças ao rebanho, principalmente a leptospirose animal, chegando no caso de pequenos produtores, a 100% de prejuízo. Em granjas, alimentam-se de ovos além de provocar quebras.
Centros Urbanos - Estima-se que 25% dos incêndios classificados como causas desconhecidas são provocados por ratos, uma vez que devido ao hábito de roer para desgastar os dentes incisivos, procuram estruturas duras, como fios de cobre dos cabos elétricos, provocando curtos circuitos.
Provocam perdas e danos em todas as fases de processamento, produção e estocagem na indústria e comércio de alimentos.
Os roedores podem comer cerca de 10% de seu próprio peso a cada dia, o que significa entre 10 a 20 Kg ao ano. Mas, o mais importante em termos de Vigilância Sanitária é que, através de seus pêlos, fezes e urina, contaminam 5 vezes mais alimentos do que podem comer.
Em funçâo dos prejuízos que provocam e das inúmeras doenças que podem transmitir, vale a pena conhecer suas principais caracteristicas, hábitos e capacidades próprias, e entender os roedores de forma integrada no ambiente que os cercam para podermos combatê-Ios, mas antes de tudo é preciso preveni-los.
Tipos de Roedores
Há mais de 3000 espécies da Ordem Rodentia, conhecidos por roedores. Porém, somente três enquadram-se como roedores urbanos, pertencem à Família Muridae e são conhecidos por:
- Rattus novergicus - ratazana, rato de esgoto, gabiru
- Rattus rattus - rato de telhado, rato de forro, rato preto
- Mus muscullus- camundongo, catita, rato de gaveta
Características gerais
As três espécies possuem hábitos noturnos. Somente em infestações pesadas é que os ratos são vistos durante o dia.
Os ratos enxergam mal, porém são sensíveis a variação luminosa. Tem ótimo olfato, paladar apurado e excelente audição, captando várias frequências de som, inclusive inaudíveis ao ser humano. O tato é. muito desenvolvido, o que compensa a falta de visão no escuro. Andam rentes às paredes e devido a este hábito deixam marcas de gordura por onde passam. Suas vibrissas (bigodes] e pêlos possuem terminações nervosas, que são usados como sensores e os ajudam a guia-Ios e por este motivo procuram fazer seus movimentos em contato com alguma superfície. Roem materiais duros para desgastar seus caninos que crescem continuamente, passam por orifícios pequenos, pulam até 1m de altura e 1,2 m de comprimento, podem cair de até 15m de altura sem nada sofrer.
As três espécies são inimigas entre si.
É muito importante conhecer a diferenciação entre as espécies, uma vez que os roedores possuem comportamentos e habitats diferentes, para que possamos identificar o tipo de roedor e realizar o tratamento adequado para o sucesso do controle.
Rattus novergicus
A ratazana é a espécie mais frequente e a que causa maior agravo à Saúde Pública, devido aos seus hábitos propícios para a contaminação e disseminação de doenças. É a espécie mais agressiva das três. Inclusive matando-as se ocorrer um encontro. Por este motivo, cada uma das 3 espécies de roedores urbanos habitam em locais diferentes, às vezes num mesmo ponto de infestação. A ratazana prefere o solo, onde faz suas tocas e constrói seus ninhos.
Nas grandes cidades vivem em esgotos, lixões, favelas, córregos, devido a facilidade de encontrar comida no lixo e porque encontram água e condições propícias para escavar suas tocas.
É ótima nadadora e também boa mergulhadora, conseguindo deslocar-se até 100m embaixo d'água. Eventualmente, estes animais penetram nas casas e edifícios através de ralos soltos e pelo sifão do vaso sanitário.
A ratazana forma colônias, onde existe uma hierarquia entre dominantes e dominados. Extremamente desconfiados, os dominantes não se aproximam de coisas novas no seu território (neofobia). Forçam os dominados a se alimentarem primeiro de supostas iscas, e caso não aconteça nada com o dominado na hora, os dominantes expulsam-o e somente então alimentam-se.
Cada colônia pode conter centenas de indivíduos, que é autolimitante (supressão de cios, canibalismo) caso reduza a oferta de abrigo e alimentos.
Rattus rattus
Rato de telhado tem o hábito de viver em locais suspensos ou arborícolas. Fazem seus ninhos em árvores, vegetações densas, em forros de residências, em estruturas de sustentação do telhado ou construções.
Das três espécies de roedores urbanos, é a que possui melhor senso de equilíbrio conseguindo andar até em fios de pouco calibre, além de ser a que possui melhor habilidade para locomover-se em interiores de canos e tubulações. Outro sentido muito desenvolvido é a audição podendo captar até o ultra-som, fugindo assim com muita antecedência. O tato também é outro sentido mais desenvolvido do que outras espécies, devido as suas vibrissas (bigodes) serem maiores.
Preferem locais onde a oferta de alimento é grande e galpões para abrigos, assim os alvos preferidos são os mercados municipais e estabelecimentos de gêneros alimentícios. Habitam também residências, prédios comerciais, principalmente abandonados.
Possuem neofobismo e também percorrem sempre a mesma trilha.
Mus muscullus - camundongo
Vive dentro de domicílios, mais especificamente dentro de armários, gavetas, fogões, sofás. Não vivem em colônias e sim em pequenos grupos familiares. Não possuem neofobismo muito exacerbado, sendo até curioso o que facilita sua captura em ratoeiras, mesmo sem iscas.
Habitam principalmente em residências abandonadas ou com falta de higiene, cozinhas industriais, locais fechados com grande quantidade de entulhos.
Dentre as mais de trinta doenças que transmitem, pode-se destacar:
- Leptospirose;
- Hantavirose;
- Salmonelose;
- Toxiinfeções alimentares;
- Tifo murino;
- Febre da mordida do rato;
- Sarnas;
- Micoses;
- Dermatites bacterianas;
- Conjuntivite;
- Rinite; e
- Peste bubônica.
O que fazer para prevenir?
Para a instalação, proliferação e sua manutenção no ambiente os roedores necessitam dos 4 "A":
- Acesso (frestas e buracos nas estruturas, falta de proteção de tela nos ralos, falta de tampa nas caixas de esgoto, falta de vedação nas portas e janelas, etc...)
- Alimento (lixo desprotegido, sobras ou resíduos de alimentos, tanto de origem doméstica como de estabelecimentos que processem alimentos)
- Abrigo (entulhos, beira de córregos com vegetação, esgoto, materiais encostados às paredes, acúmulo de materiais servíveis, etc...)
- Água (córregos, rios, esgotos, galerias pluviais, etc...)
Portanto, é de extrema importância realizar um conjunto de ações para evitar que os roedores tenham acesso, alimento, abrigo e água, visando eliminar ou minimizar os riscos de ocorrência e manutenção de uma infestação, tais como:
- Corrigir possíveis pontos de entrada de roedores no ambiente, como falhas de vedação em tubulações; proteger os ralos com telas, sifão, vedação de portas, janelas e telhados, etc...
- Manter as portas fechadas.
- Aparar grama e mato, próximo às divisas e construções.
- Corrigir vazamento em dutos de água e torneiras.
- Manter as áreas organizadas e livre de entulhos.
- Manter a distância mínima de 40cm entre os pallets com produtos e as paredes e no mínimo 20cm entre o piso e a base do pallet.
- Acondicionar o lixo de forma adequada, em contentares com tampa.
- Manter a área de armazenamento de lixo constantemente higienizada.
- Dar destino adequado ao lixo, estabelecendo periodicidade para a sua retirada, preferencialmente diária e, se possível, com coleta no final da tarde e não na parte da manhã, para evitar que o lixo seja colocado à noite quando os ratos saem à procura de alimentos.
- Manter constantemente higienizadas tanto as áreas internas quanto as áreas externas.
- Inspecionar as cargas no ato do seu recebimento, verificando se há sinais ou evidências de roedores.
- Providenciar a poda de árvores, não permitindo que fiquem encostadas às edificações.
- Verificar instalações de fornecedores.
Como podemos contribuir para o controle e prevenção de roedores no ambiente de trabalho e em nossa comunidade?
Em seu ambiente de trabalho:
Uma das principais formas é estar sempre atento, observando o ambiente para:
- Solicitar a correção de toda e qualquer não conformidade, que possa permitir o acesso e/ou a instalação de roedores.
- Informar ao responsável pela área, que deverá repassar à InsetCenter quando encontrar evidências de roedores, tais como: presença de fezes, manchas ou cheiro de urina, pêlos, produtos e/ou materiais roídos, pegadas(unhas, patas), ninhos.
- Realizar as ações preventivas / corretivas acima citadas, retirando as condições de sobrevivência dos roedores.
Em sua comunidade:
É muito importante repassar os conhecimentos adquiridos em seu local de trabalho, aplicando-os no dia a dia, em sua residência e adjacências, tais como:
- Só coloque o lixo em sacos fechados e em lugares altos.
- Guarde sempre os alimentos em recipientes fechados.
- Não deixe o mato alto em jardins e quintais.
- Notifique a Prefeitura, se próximo à sua residência existir terreno baldio contendo lixo ou mato alto e solicite a limpeza e poda.
- Mantenha os ambientes limpos, pois saiba que roedor não suporta limpeza.
Finalmente, para conseguirmos um adequado controle de roedores e pragas em geral, é muito importante a consciência de que somente com a participação de todos, a parceria entre a empresa contratada e contratante e a união dos membros da comunidade é que, através de ações conjuntas, obteremos sucesso e venceremos esses nossos inimigos.
Fonte: Andreani Sobrinho, R.; Colombo, J. F. - Controle e Biologia de Roedores Urbanos; Revista Focus Saúde Pública - Publicação da Syngenta Proteção de Cultivos Ltda
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